Tecnologia
Regulamentação da IA: Inimiga ou aliada do progresso?
Estamos testemunhando avanços extraordinários na inteligência artificial (IA), especialmente com o desenvolvimento de modelos generativos como o Chat GPT, que têm causado um misto de fascínio e apreensão em razão das inúmeras possibilidades que podem surgir a partir dessa tecnologia. Esses avanços alimentam uma série de especulações sobre o futuro da IA e seu potencial, levantando questões sobre seu papel, os desafios éticos que ela pode trazer e principalmente como seguiremos com a regulamentação dessa tecnologia.
O investimento bilionário da Microsoft no Chat GPT contribuiu para sua popularização, fazendo com que empresas e indivíduos começassem a enxergar a IA como um atalho para automatizar tarefas e contribuir para ações do cotidiano. Segundo um estudo da Bain & Company, a disponibilidade de tecnologias de Inteligência Artificial pode impulsionar as organizações a otimizar cerca de 20% das atividades dos colaboradores, mantendo os padrões de qualidade intactos.
Apesar de, até o momento, termos experienciado majoritariamente mudanças positivas devido à integração da IA no fluxo de trabalho, existe um temor que essa nova tecnologia possa superar barreiras éticas com sua ampla capacidade de produção, principalmente quando se trata da esfera imagética, e causar problemas complexos envolvendo informação que ainda não temos respostas concretas de como evitá-los.
A tecnologia de deepfake representa um exemplo da preocupação no cenário da disseminação de fake news. Ao empregar inteligência artificial, essa técnica possibilita a substituição de rostos em vídeos, sincronização precisa de movimentos labiais, reprodução de voz e outros elementos, conferindo aos vídeos gerados por IA uma aparência autêntica, tornando-os em alguns casos, praticamente indistinguíveis da realidade.
Com a ampla disseminação da Inteligência Artificial, tornou-se evidente o impressionante avanço alcançado em um período relativamente curto, o que levanta questões sobre a capacidade da sociedade de lidar com os impactos dessa tecnologia. Nesse contexto, surge o debate sobre a necessidade de regulamentação da IA. Personalidades influentes, como o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já tomaram medidas nesse sentido, assinando um decreto que exige testes de segurança de desenvolvedores capazes de identificar conteúdo gerado por IA e análise de riscos ao mercado de trabalho.
Outros lugares, como a União Europeia, também trabalham na regulamentação da IA. Lá foi alcançado um acordo preliminar sobre normas históricas da União Europeia para regular o uso de inteligência artificial (IA), incluindo vigilância biométrica e sistemas como o ChatGPT. Após negociações, os países do bloco e membros do Parlamento Europeu chegaram a um consenso. O acordo requer transparência para modelos básicos e sistemas de IA antes de serem lançados no mercado, além de avaliações e relatórios para modelos de alto impacto. Apesar de um primeiro passo considerado positivo, não agradou a todos. O grupo empresarial DigitalEurope, por exemplo, criticou as regras como um ônus adicional para as empresas, considerando o acordo morno. De qualquer forma, acredito que esses primeiros passos sobre a discussão sejam positivos para o avanço das regulamentações no geral.
Durante as conversas que cercam a regulamentação da IA, surgem oportunidades para abordar questões como privacidade, segurança, viés algorítmico e responsabilidade social, porém isso é um desafio que exige uma abordagem colaborativa. Acredito que, da mesma forma que aconteceu com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que foi inspirada na norma europeia, o Brasil deve ser influenciado pelas discussões que começam a surgir no exterior antes de seguir com algo efetivo.
Ainda existe muito a ser discutido neste contexto uma vez que muitos especialistas se preocupam com o resultado de normas no desenvolvimento e na inovação da IA. Vale ressaltar que já lidamos com descobertas mais perigosas, como a energia nuclear, e suas regulamentações contribuíram para o progresso e a segurança. Sigo com a opinião que o debate sobre a regulamentação deve sempre encontrar um equilíbrio que não impeça os avanços de uma ferramenta tão versátil, mas também não prejudique o coletivo com uso que ultrapasse as barreiras éticas, garantindo assim que seus benefícios sejam maximizados e seus impactos negativos sejam mitigados.
O desenvolvimento responsável da IA requer um delicado equilíbrio entre inovação tecnológica e a proteção dos direitos e interesses humanos. Para alcançarmos esse potencial máximo, é primordial a percepção da IA não como uma mera tendência, mas como uma oportunidade a ser explorada e que pode se beneficiar de regulamentações para avaliar seu potencial. Isso demanda uma colaboração entre especialistas em ética, juristas, legisladores, pesquisadores e stakeholders da indústria, a fim de estabelecer políticas e diretrizes que promovam o uso ético e responsável da IA.
À medida que continuamos a explorar as possibilidades da inteligência artificial e suas aplicações potenciais, deve-se manter um diálogo aberto e informado sobre os desafios e oportunidades que ela apresenta. Somente através de uma abordagem colaborativa e baseada em evidências podemos garantir que a IA seja uma força positiva para o progresso humano, em vez de uma fonte de preocupação e medo.
Texto: Antônio Paes Jr, ex-NASA e professor universitário, é Chief Chief AI Officer da Zallpy, empresa especializada no desenvolvimento de soluções digitais personalizadas para empresas de grande porte.
Tecnologia
Como as baterias de carros elétricos podem ajudar a economizar
Carros elétricos são mais caros do que os modelos a gasolina, principalmente devido ao alto custo das baterias. No entanto, novas tecnologias podem transformar esses dispositivos caros em um ativo, oferecendo aos proprietários benefícios como uma redução em suas contas de energia, em seus pagamentos de aluguel ou mesmo estacionamento gratuito.
A Ford Motor, a General Motors, a BMW e outras montadoras estão pesquisando como as baterias de carros elétricos podem ser utilizadas para armazenar o excesso de energia renovável, dessa forma ajudando as concessionárias a gerenciarem as flutuações na oferta e demanda de energia. As montadoras ganhariam dinheiro servindo como intermediários entre os proprietários de automóveis e os fornecedores de energia.
Milhões de carros podem ser considerados um enorme sistema de energia que, pela primeira vez, será conectado a outro grande sistema energético, a rede elétrica, afirmou Matthias Preindl, professor de sistemas eletrônicos de potência na Universidade de Colúmbia.
“Estamos só no início”, disse Preindl. “Eles irão interagir mais no futuro e poderão potencialmente se apoiar mutuamente – ou sobrecarregar um ao outro.”
Uma grande tela plana na parede dos escritórios da Mobility House em Munique, uma empresa com investidores como Mercedes-Benz e Renault, ilustra uma maneira pela qual os fabricantes de automóveis poderiam lucrar enquanto ajudam a estabilizar a rede elétrica.
Os gráficos e números na tela fornecem uma visão em tempo real do mercado de energia europeu, onde investidores e concessionárias compram e vendem eletricidade. O preço muda de minuto a minuto à medida que a oferta e a demanda aumentam ou diminuem.
A Mobility House compra energia quando as energias solar e eólica estão abundantes e baratas, armazenando-a em veículos eléctricos que fazem parte do seu sistema e estão conectados em toda a Europa. Quando a demanda e os preços aumentam, a empresa revende a eletricidade. É o jogo clássico: compre na baixa, venda na alta.
Profissionais dos setores automobilístico e de energia discutem há anos o uso de baterias de automóveis para armazenamento na rede. Com o aumento do número de carros elétricos nas estradas, essas ideias se tornam mais concretas.
A montadora francesa Renault está disponibilizando a tecnologia da Mobility House para os compradores de seu carro compacto elétrico R5, para o qual a empresa começou a aceitar encomendas no mês passado. O carro, que a Renault começará a entregar em dezembro, custa a partir de EUR 29.490 (cerca de US$ 32 mil) na França.
Os compradores que aderirem receberão um carregador doméstico gratuito e assinarão um contrato que permite à Renault extrair energia dos veículos quando eles estiverem conectados. Os proprietários do R5 poderão controlar quanta energia devolvem à rede e quando. Em troca, eles terão uma redução nas contas de luz.
“Quanto mais eles se conectam, mais ganham”, disse Ziad Dagher, executivo da Renault responsável pelo programa. A Renault estima que os participantes podem reduzir em 15% as contas de energia de suas residências.
A Renault, que lançará a tecnologia na França antes de expandi-la para a Alemanha, Grã-Bretanha e outros países, receberá uma parte dos lucros gerados pela Mobility House com o comércio de energia.
Se esses serviços forem bem-sucedidos, o argumento financeiro em favor dos veículos elétricos, uma ferramenta importante contra as mudanças climáticas, se fortalecerá.
“Isso realmente impulsionaria a adoção de veículos elétricos”, afirmou Adam Langton, executivo da BMW que trabalha com questões energéticas.
A BMW já disponibiliza um software que permite aos proprietários carregarem seus carros elétricos quando há maior disponibilidade de energia renovável. Isso permite que a empresa ganhe créditos de carbono e pague aos clientes que participam do programa.
A próxima geração de veículos elétricos que a BMW lançará no próximo ano, chamada de Neue Klasse, terá capacidade bidirecional, o que significa que os carros poderão retirar eletricidade da rede, devolvê-la e utilizá-la para alimentar seus motores.
A Ford foi pioneira no carregamento bidirecional com a picape F-150 Lightning, que pode energizar uma casa durante um apagão. A General Motors, a Hyundai e a Volkswagen também oferecem ou planejam oferecer carros com carregamento bidirecional. Com a crescente popularidade desses veículos, o potencial de armazenamento pode ser enorme.
Até ao final da década, estima-se que 30 milhões de veículos elétricos poderão estar rodando nas estradas dos EUA, em comparação com os atuais cerca de 3 milhões. Somados, todos esses veículos poderiam armazenar tanta energia quanto a produção diária de dezenas de usinas nucleares.
Mas é evidente que esses milhões de carros também podem colocar pressão na rede, que já está enfrentando uma demanda crescente de eletricidade devido a bombas de calor e data centers, explicou Aseem Kapur, diretor de receitas da GM Energy, uma unidade da General Motors que oferece serviços aos proprietários de veículos elétricos. Por contribuírem para suavizar a demanda, “os veículos elétricos podem ser um recurso significativo”, comentou.
Mas alguns problemas precisam ser resolvidos antes que essa visão possa ser concretizada.
Os proprietários podem não ficar empolgados com a ideia de usar seus carros para apoiar a rede, pois temem que carga e descarga frequentes possam desgastar suas baterias mais rapidamente.
Alguns especialistas em energia afirmam que a degradação seria insignificante, especialmente se as concessionárias utilizassem apenas uma pequena fração da capacidade de uma bateria. A Renault está lidando com essa preocupação ao oferecer aos participantes de seu programa de armazenamento de energia a mesma garantia de oito anos e 160 mil quilômetros (cerca de 100 mil milhas) fornecida aos não participantes.
Outro desafio é que algumas empresas concessionárias dos EUA e os reguladores estatais que as supervisionam preferem operar redes centralizadas nas quais a energia flui quase inteiramente em uma direção – das centrais elétricas para as casas e empresas.
Para superar a resistência das concessionárias, mês passado o estado de Maryland adotou uma lei que exige que eles acomodem esquemas de cobrança bidirecionais e forneçam incentivos financeiros.
Está cada vez mais claro que as baterias dos veículos elétricos são investimentos valiosos que a maioria dos proprietários utilizará ativamente apenas por algumas horas por dia.
“Queremos desbloquear todo o valor das baterias de veículos elétricos”, disse Gregor Hintler, CEO da Mobility House para a América do Norte.
Se todos os carros elétricos da cidade de Nova York fossem utilizados como armazenamento, esses veículos seriam, de longe, a usina de energia mais valiosa de Nova York”, disse Preindl.
FONTE: NYT: ©.2024 The New York Times Company
Tecnologia
Inteligência Artificial auxilia médicos reduzindo sobrecarga de trabalho em relação aos prontuários
A Inteligência Artificial (IA) vem mostrando um grande potencial para as mais diversas áreas do conhecimento, o que inclui a medicina, trazendo alternativas interessantes para o setor. Uma delas diz respeito à gestão de prontuários médicos, uma queixa recorrente na rotina desses profissionais.
Diversos estudos atestaram que a documentação nos prontuários contribui para o aumento das taxas de exaustão entre os prestadores de cuidados de saúde. Nesse contexto, prontuários médicos já foram associados a até 75% do esgotamento médico e a 85% da insatisfação entre o equilíbrio na vida pessoal e profissional.
Na atualidade, a IA vem sendo incorporada de modo a auxiliar no manejo dos prontuários dos pacientes, com o objetivo de economizar horas de trabalho, diminuindo a sobrecarga de atividades, posto que torna possível o registro das informações de maneira instantânea, sintética e estruturada. É o que explica a Dra. Luciana Souza, sócia-fundadora da Sinerji — empresa de transformação digital e soluções baseadas em softwares.
Conforme Luciana, dependendo da IA escolhida, ela pode reduzir, por exemplo, de 2 horas para aproximadamente 20 minutos o tempo diário gasto nessa tarefa, que é tanto cotidiana como repetitiva para estes profissionais. Ela explanou que a IA generativa – aquela que gera textos, imagens ou outros meios de resposta a solicitações – é a que mais frequentemente vem sendo usada, já que ao aprender com as conversas médico-paciente, executa um resumo da conversa e este pode ser utilizado como um registro no prontuário, otimizando essa etapa do exame.
“É uma solução bastante promissora. Tal tecnologia, que se vale de algoritmos para aprender padrões em dados e criar conteúdo baseado nesses padrões, proporciona mudanças positivas na forma com que os médicos lidam com a documentação e gestão dela”, disse. Luciana destacou que ao enxergarem todas as possibilidades que esse campo da transformação digital traz, inúmeras empresas estão desenvolvendo tecnologias de ponta, com o propósito de condensar, organizar e categorizar as informações que compõem a conversa entre médico e paciente.
Noutra perspectiva igualmente vantajosa, por meio de IA também se pode digitalizar informações de prontuários físicos e transformá-los em um conteúdo eletrônico organizado, que pode ser usado para fornecer indicadores importantes. Ou seja, dá para sistematizar um gigantesco volume de dados de um jeito eficiente, a exemplo de perfil dos pacientes, diagnósticos e resultados de tratamentos, permitindo insights fundamentais para estudos, pesquisas clínicas e terapias, configurando-se como um apoio ao trabalho dos médicos, das operadoras de saúde e outros profissionais que fazem o acompanhamento dessas pessoas.
O healthcare é um segmento em constante evolução, o que é excelente, como assinalado pela sócia-fundadora da Sinerji. “A adoção dessas tecnologias vem acontecendo gradativamente e, sobretudo nessa área, o progresso conquistado beneficia toda a sociedade, mas também requer pesquisas aprofundadas e surgem desafios. Uma questão enfrentada mundialmente em relação ao tema, refere-se às incertezas regulatórias e às preocupações com a segurança do paciente. Além disso, é essencial a supervisão humana para assegurar a precisão e observar essas contribuições geradas pela IA, validando o processo”, enfatizou.
Desse modo, a inserção dessas metodologias na medicina, pode resultar numa assistência à saúde com uma qualidade superior, posto que ao liberar os médicos de tarefas mecânicas e demoradas, essas tecnologias oportunizam aos profissionais que possam concentrar seus esforços no que realmente faz a diferença: o atendimento humanizado ao paciente.
FONTE: ASCOM SINERJI